A verdadeira prisão
Não é o teto que goteja
Nem o zumbido dos mosquitos
Dentro da cela sórdida e escura
Não é o barulho das chaves
Quando o guarda fecha tudo
Não é a comida miserável
Dentro da cela sórdida e escura
Não é o barulho das chaves
Quando o guarda fecha tudo
Não é a comida miserável
Imprópria para o animal ou para o homem
Tampouco os dias vazios
Que se fundem no nada da noite
Não é isso !
Não é isso.
Não é tudo isso ...
São todos os enganos introduzidos
Não é isso !
Não é isso.
Não é tudo isso ...
São todos os enganos introduzidos
Pelas nossa orelhas durante todas as gerações
É o agente da polícia
É a sua fúria homicida
Executor sem animo de ordens desastrosas
Em troca de um pequeno pagamento
O juiz que condena
Una pena que não é merecida
É o agente da polícia
É a sua fúria homicida
Executor sem animo de ordens desastrosas
Em troca de um pequeno pagamento
O juiz que condena
Una pena que não é merecida
A decrepitude moral
A inépcia mental
Ordinária dos ditadores
A inépcia mental
Ordinária dos ditadores
A covardia disfarçada
Escondida dentro das nossas almas perdidas
O medo que molha os nossos calções
Que não ousamos lavar.
É Isso !
É Isso !
É isso !
Que transforma o nosso mundo livre
em uma terrível prisão.
Ken Saro-Wiwa
(Poesia escrita na prisão)
(Poesia escrita na prisão)
Kenule Saro-Wiwa
(10 de outubro de 1941 – 10 de novembro de 1995)
Ativista ambiental, escritor, produtor da Nigéria (África). Saro-Wiwa pertencia ao povo Ogoni, um grupo étnico minoritário nigeriano radicado no delta do Níger, e liderava - através do Movimento pela Sobrevivência do Povo Ogoni - uma campanha não-violenta contra a degradação ambiental das terras e das águas da região pelas petrolíferas transnacional, especialmente a Royal Dutch Shell. Por conta de seu ativismo, ele acabou preso em 1994 à mando do regime militar que governava o país naquela época. Em um processo judicial fraudulento e criminoso, Saro-Wiwa foi condenado à morte e enforcado em 1995 sem nenhum direito à defesa.
*Em 2009, a gigante do petróleo Royal Dutch Shell concordou em pagar US$ 15,5 milhões de dólares de indenização as famílias das vítimas dos abusos de direitos humanos na Nigéria. O valor foi fechado como parte de um acordo extrajudicial que conclui uma ação coletiva movida contra a Shell nos Estados Unidos em 1995 depois da morte de vários ativistas.
A empresa foi acusada em cortes americanas de cumplicidade na morte de ativistas nigerianos pela preservação do meio ambiente, entre eles o indicado ao Nobel de Literatura Ken Saro-Wiwa, enforcado em 1995.
O caso foi levado à Justiça pelos parentes de Saro-Wiwa e de 8 de seus companheiros que foram presos e mortos porque realizavam uma campanha pelos direitos do seu povo e protestavam contra a poluição causada pela indústria do petróleo.
As mortes provocaram uma onda de protestos internacionais.
A Shell negou reiteradamente (sic) (sempre negam) as alegações feitas no tribunal, de que foi cúmplice na violação dos direitos humanos perpetrada pelo governo militar da época, que incluíram tortura e execução sumária. A companhia também foi acusada de ajudar a financiar os militares nigerianos. A empresa disse que concordou em fazer um acordo extrajudicial na esperança de ajudar o "processo de reconciliação" (sic) na Nigéria.
O dinheiro foi destinado às famílias, inclusive o filho de Ken Saro-Wiwa, Ken Wiwa e à comunidade Ogoni.
Petróleo
Vastas reservas de petróleo foram descobertas na área habitada pelos Ogoni, na Nigéria, em 1958. Na década de 90, foi formado o Movimento pela Sobrevivência do Povo Ogoni (Mosop), presidido por Ken Saro-Wiwa. O Mosop acusou o governo de adotar uma tática de "dividir para governar", estimulando conflitos entre as comunidades locais e patrocinando todos os tipos de crime.
*A Shell continua na Nigéria e nas terras dos Ogoni - apesar de tudo.
Para saber mais:
Movement for the Survival of the Ogoni People
http://www.mosop.org/