Os Kaingang ou Kanhgág (em português caingangue) vivem hoje em mais de 30 Terras Indígenas distribuídas nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul no Brasil e na Argentina. Como outros grupos da família lingüística Macro-Jê, são caracterizados como sociedades sociocêntricas que reconhecem princípios sociocosmológicos dualistas, apresentando um sistema de metades. Nimuendajú (1913) foi o primeiro a afirmar que os Kaingang estão articulados através do reconhecimento de um sistema de metades na figura dos irmãos mitológicos Kamé e Kairu.
Kamé e Kairu não apenas criaram os seres da natureza, mas também as regras de conduta para os homens, definindo a fórmula de recrutamento das metades (patrilinearidade) e estabelecendo a forma como as metades deveriam relacionar-se (exogamia). “Chegaram a um campo grande, reuniram-se aos Kaingang e deliberaram casar os moços e as moças. Casaram-se primeiro os Kairucrés com as filhas dos Kamés, estes com as daqueles, e como ainda sobravam homens, casaram-se com as filhas dos Kaingang”. A complementaridade entre os irmãos mitológicos Kamé e Kairu é explícita: os Kamé trabalhavam durante o dia para fazer os animais que pertencem a esta metade, os Kairu, inversamente, trabalhavam à noite; o sol pertence a metade Kamé, a lua à metade Kairu.
A dispersão de grupos pelos campos e matas de seu território tradicional não impediu e não impede que eles reconheçam um sistema cosmológico comum. Efetivamente, ainda hoje os grupos Kaingang, além de da mitologia mitológico compartilham crenças e práticas acerca de suas experiências rituais – o profundo respeito aos mortos e o apego às terras onde estão enterrados seus umbigos são expressões incontestáveis do valor estruturante da cosmologia para estes índios.
A dispersão de grupos pelos campos e matas de seu território tradicional não impediu e não impede que eles reconheçam um sistema cosmológico comum. Efetivamente, ainda hoje os grupos Kaingang, além de da mitologia mitológico compartilham crenças e práticas acerca de suas experiências rituais – o profundo respeito aos mortos e o apego às terras onde estão enterrados seus umbigos são expressões incontestáveis do valor estruturante da cosmologia para estes índios.
A demarcação de boa parte das terras Kaingang ocorreu no começo do século XX. Porém, a demarcação não impediu que essas terras fossem invadidas e griladas. O fato gerou conflitos entre os Kaingang e os invasores, obrigando a uma mudança em delimitações originalmente feitas pelo Estado, desfavorecendo os indígenas em diversos casos.
Os Kaingang correspondem a quase 50% de toda população dos povos de língua Jê, sendo um dos cinco povos indígenas mais populosos no Brasil.* A nação Kaingang que vende artesanato em Porto Alegre habita no Morro do Osso que é um dos últimos resquícios da Mata Atlântica da região. As principais motivações da ocupação do Morro do Osso pelos Kaingang estão relacionadas à existência de um cemitério indígena e da localização de restos de casas subterrâneas que consideram de sua ancestralidade, somando-se a este fato a iminente derrubada de parte da mata que não encontra-se nos limites legais do parque municipal para a construção de um condomínio horizontal pela especulação imobiliária.
Para saber mais sobre a presença Kaingang no Morro do Osso:
-Rauber, Rita Cristina. O conflito de ocupação territorial do Morro do Osso em Porto Alegre, RS, Brasil, entre um grupo Kaingang e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre. In. VI Reunião de Antropologia do Mercosul (RAM). GT 12. Montevideo. 2005.
-Saldanha, J.R. Reflexões acerca da conjuntura da presença Kaingang na paisagem de Porto Alegre/RS através de uma antropologia da estética. In. XXVI Reunião Brasileira de Antropologia (RBA). GT 30. Porto Seguro, BA. 2008.
-Souza Pradella, Luiz Gustavo. Tempo, espaço e referência: marcos de ambiência kaingang no Morro do Osso. In. XXVI Reunião Brasileira de Antropologia (RBA). GT 34. Porto Seguro, BA. 2008.
-Fagundes, Luiz Fernando; Rosa, Patricia Carvalho e Souza Pradella, Luiz Gustavo. Os Kujã vão na frente: Uma narrativa Kaingang pela Terra (Documentário). NIT-UFRGS. Porto Alegre. 2006.
-Saldanha, J.R. Reflexões acerca da conjuntura da presença Kaingang na paisagem de Porto Alegre/RS através de uma antropologia da estética. In. XXVI Reunião Brasileira de Antropologia (RBA). GT 30. Porto Seguro, BA. 2008.
-Souza Pradella, Luiz Gustavo. Tempo, espaço e referência: marcos de ambiência kaingang no Morro do Osso. In. XXVI Reunião Brasileira de Antropologia (RBA). GT 34. Porto Seguro, BA. 2008.
-Fagundes, Luiz Fernando; Rosa, Patricia Carvalho e Souza Pradella, Luiz Gustavo. Os Kujã vão na frente: Uma narrativa Kaingang pela Terra (Documentário). NIT-UFRGS. Porto Alegre. 2006.
*Etnolinguística:
Biblioteca Digital Curt Nimuendaju